O boom das apostas esportivas na América Latina
Foto: FreePik

A indústria de apostas esportivas cresce no Brasil e na América Latina. O Governo Federal deve criar uma secretaria para o setor, uma vez que o assunto ganhou mais destaque após a CPI das Apostas Esportivas na Câmara dos Deputados.

A CPI começou a partir de um esquema de manipulação de resultados envolvendo jogadores de clubes de várias divisões nacionais, inclusive a Série A do Brasileirão do ano passado.

A CPI das Apostas Esportivas terminou nesta terça-feira, 26, sem votar o seu relatório final, do deputado Felipe Carreras (PSB-PE). O documento foi protocolado, mas a maioria dos deputados preferiu pedir vistas.

Conforme o Portal Terra, a chegada do prazo final resultou na finalização da comissão sem que o documento, que previa algumas mudanças no setor, fosse analisado.

Uma das questões propostas era restringir as apostas esportivas somente em gols ou no resultado de um evento. No escândalo descoberto pelo Ministério Público de Goiás (MP-GO), boa parte das manipulações se referiam a cartões e penalidades.

Cabe ressaltar que esse problema não é exclusivo do Brasil, gerando preocupações em outros países. A Federação de Futebol da Bolívia decidiu suspender a liga nacional no começo do mês em função de um suposto esquema de manipulação de resultados.

Um ponto citado é o boom das casas de apostas esportivas, bem como a publicidade do setor. Conforme a pesquisa do Ibope Repucom, em 2022, o segmento liderou os patrocínios nas camisas de times da primeira divisão do futebol no Brasil.

Mercado de apostas esportivas na América Latina

Na América Latina, as casas contavam com o segundo lugar nestes espaços. Além disso, campeonatos, cotas de transmissões de TV e espaços nos estádios passaram a contar com presença massiva deste setor nos últimos anos.

O diretor de desenvolvimento de negócios do Ibope Repucom, Arthur Bernardo Neto, entende que é de interesse de todos, especialmente das casas de apostas, que haja empenho máximo no combate a manipulação.

Ele diz que “o episódio recente com jogadores brasileiros culminou em punições relevantes”, em entrevista ao Portal Terra que alguns dos atletas foram banidos do esporte.

“Acreditamos que o peso de tais punições contribui para mitigar os efeitos negativos na imagem das casas de apostas e, somado à regulamentação, pode criar um ambiente mais favorável frente à opinião pública e aos apostadores”, afirmou Neto.

No ano passado, um relatório efetuado pela SimilarWeb apontou o Brasil como o líder global em acesso as plataformas, com cerca de 25% do total mundial.

A Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), pontuou, em relatório, que o mercado da região é considerado menos maduro do que na Europa, onde o jogo legal está disponível há mais tempo.

De acordo com a avaliação, as empresas de apostas esportivas veem grande parte do continente como não “excessivamente regulamentado”, em oposição a alguns países europeus.

“Seja porque ainda não existem leis que regulem as apostas, ou não por não haver controle sobre aplicativos que não são legais”, afirmou o psiquiatra da Associação Psicanalítica da Argentina (APA) Alberto Eduardo Álvarez, ao Terra.

“Trata-se de um fenômeno social relativamente novo e as leis são sempre ditadas pela estrutura do sistema num momento posterior”, complementou.

boom das apostas esportivas
Foto: FreePik

Publicidade e as casas de apostas esportivas

Em vários países, a pressão para que a propaganda do segmento seja restrita teve efeito prático. Na França, uma lei prevendo a atuação de influenciadores limita o espaço para as casas de apostas.

No Reino Unido e na Espanha, as principais equipes de futebol decidiram não contar mais com acordos desse mercado nos espaços mais valorizados de seus uniformes.

A Bélgica optou por uma postura mais severa e restringiu ainda mais as campanhas de casas de apostas desde o mês de julho. “Isto é necessário para combater a normalização e banalização do jogo”, afirmou o comunicado oficial do governo.

A Holanda, por sua vez, também limitou a publicidade em segmentos como rádio e TV.

No Brasil, o tema está sendo debatido paralelamente a regulamentação das apostas esportivas no Congresso. Um projeto pretende limitar a presença de personalidades e celebridades em campanha, além de reduzir os horários de transmissão de anúncios na TV.