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Com a evolução do mercado de apostas no Brasil e no mundo, vimos um aumento também no número de casos relacionados a manipulação de partidas e resultados. Infelizmente, este é um problema que existe e que precisa ser combatido pela sociedade, casas de apostas e toda indústria de apostas esportivas e iGaming.

A manipulação de resultados atrapalha a integridade e evolução do segmento, além de gerar resultados injustos para toda os torcedores e fãs dos esportes. O UOL publicou recentemente uma reportagem que explica em detalhes este problema e como ele prejudica todo o cenário das apostas.

Confira na íntegra a notícia sobre a manipulação de resultados nas apostas esportivas

Com o rápido e forte crescimento das casas de apostas ao redor do mundo, um dos maiores problemas a serem combatidos pela indústria do esporte certamente passou a ser o da manipulação de resultados. De acordo com os dados de seu último relatório, a International Betting Integrity Association (IBIA), considerada principal entidade sobre integridade para a indústria de apostas licenciadas, apontou que as operadoras de apostas esportivas online regulamentadas perdem algo próximo de US$ 25 milhões (R$ 131 milhões) ao ano por conta dessa prática nociva e criminosa.

O número assusta e serve para reforçar a tese de que, além do esporte, as empresas de apostas esportivas também são bastante prejudicadas pelas manipulações.

“Ao contrário do que sugere o imaginário popular, as casas de apostas são as maiores vítimas quando um resultado de evento esportivo é manipulado. Quando um criminoso manipula o resultado ou evento de uma partida, é comum que injetem valores altos nas odds (cotações) oferecidas pelas casas para tal resultado/evento ocorrer. Assim, caso o resultado final buscado pelo manipulador se concretize, a casa de apostas (que não tem conhecimento da manipulação) deve pagar os prêmios correspondentes pelo acerto da aposta ao manipulador – e isso, no longo prazo, pode configurar um prejuízo milionário aos cofres das casas de apostas”, explica Udo Seckelmann, advogado especialista em direito desportivo internacional.

“A manipulação de resultados gera prejuízos para diversos players. Os mais imediatos, como o fã do esporte que começa a questionar a integridade do jogo. Os clubes, que por vezes vêm o projeto de um ano todo prejudicado. E as entidades que organizam o esporte, pois sofrem acusações de corrupção sobre as quais podem não ter qualquer ingerência. Mas além deles, há outros interessados menos óbvios, como os operadores de apostas esportivas”, afirma Rafael Marcondes, advogado especialista em direito desportivo e colunista do Lei em Campo.

Marcondes explica que quando há manipulação de resultados, todo o trabalho feito pelas casas de apostas em relação à precificação vai por água abaixo.

“As casas de apostas investem muitos recursos em análise de dados e estudos para precificar corretamente uma aposta (odd), de modo que o risco seja corretamente compensado. As manipulações de resultados interferem no equacionamento de riscos e trazem prejuízos milionários para os operadores”, explica.

“Por esses motivos, as casas de apostas são muito interessadas em investimento na integridade do esporte e no combate ao match-fixing. Se não existir incerteza nos resultados, não existirá aposta esportiva”, ressalta Seckelmann.

Um dos principais desafios da comunidade esportiva e os profissionais de seu entorno é erradicar a atividade das máfias ou do crime organizado, onde utilizam métodos de pagamento e/ou extorsão para influenciar os resultados das partidas.

Em seu último documento, a IBIA relatou 76 casos de apostas suspeitas às autoridades competentes durante o terceiro trimestre de 2022. Nesse período, os alertas abrangeram oito esportes diferentes, sendo: 33 casos de tênis; 16 de eSports; 13 de futebol; 10 com tênis de mesa; 1 de badminton; 1 de snooker; 1 de basquete; e 1 de corrida de cavalo.

Geograficamente, a Europa foi o continente responsável por metade dos casos suspeitos reportados no terceiro semestre deste ano, com 37, seguido pela Ásia (8), América do Sul (7), África (7) e América do Norte (1). A Oceania não teve nenhum alerta nesse período.

“Os alertas para o trimestre estão na extremidade mais alta da escala em comparação com os anos anteriores, mas devem ser vistos em relação ao crescimento substancial de membros da associação durante o ano. Isso serviu para aumentar a cobertura do mercado global e os alertas identificados e relatados, destacando o impacto benéfico de uma rede global de integridade de apostas multioperadora”, disse o CEO da IBIA, Khalid Ali, no relatório.

“A IBIA continua trabalhando em estreita colaboração com seus membros e partes interessadas externas, como esportes e reguladores, para garantir que processos adequados de gerenciamento de risco sejam implementados e incentiva uma abordagem de tolerância zero à manipulação de eventos esportivos e fraudes de apostas associadas”, acrescentou.

Em comparação com o segundo trimestre deste ano, houve uma diminuição de 60% nos alertas de futebol e em 29 países o número de alertas relatados caiu. Espanha, Hungria e Polônia registraram o maior número de alertas em um país, cinco.

Por fim, Marcondes diz que a manipulação é um problema muito sério e que acaba afetando o grande potencial que esse mercado tem de arrecadação para os países.

“Sem deixar de lado que a má prática de agentes que corrompem o esporte, macula uma atividade licita e de grande potencial arrecadatório para o País, prejudicando, também, o Brasil. Não só para os clubes e instituições que organizam o esporte, ao tirar a credibilidade das competições, afeta também, de forma drástica, as empresas de aposta esportiva”, finaliza Marcondes.