Algumas lutas de boxe nos Jogos de Londres 2012 e Rio 2016 teriam sido manipuladas, conforme apuração realizada pelo canadense Richard McLaren por solicitação da Associação Internacional de Boxe (AIBA).
Os combates na Olimpíada sediada no Brasil apresentaram sinais evidentes de manipulação, segundo a apuração. Já em Londres, a investigação apontou somente indícios de fraudes. O esquema poderia envolver árbitros e juízes.
McLaren reportou a existência de uma “cultura de medo, intimidação e obediência” em todo o sistema envolvendo os árbitros. O investigador e seus colaboradores não anunciaram uma quantidade exata, todavia, citaram 11 lutas de boxe manipuladas apenas em 2016.
No sistema de manipulação, as autoridades da própria Alba organizavam árbitros e juízes para que eles manipulassem os combates. Assim, eles eram escolhidos para integrar o sistema, e informados nas seletivas olímpicas.
“Essa estrutura informal permitia cumplicidade e anuência dos árbitros e juízes, que eram designados para garantir resultados previamente acordados em combates específicos”, explicou McLaren.
Sem identificar os possíveis envolvidos, o investigador canadense relatou que os juízes e árbitros eram orientados sobre quem deveria ganhar horas antes do início da luta. O relatório conta com 149 páginas.
Um dos exemplos seria uma propina de aproximadamente 1,3 milhões de reais ofertado a juízes e árbitros para que um boxeador da Mongólia vencesse o oponente francês na semifinal. A denúncia deste esquema foi realizada por uma testemunha, conforme o SportBuzz.
Todavia, uma das principais polêmicas em 2016 envolveu o irlandês Michael Conlan, que nas quartas de final da categoria até 56 kg, dominou o combate contra Vladimir Nikitin. Porém, a arbitragem concedeu a vitória ao russo. Mas, o ganhador não lutou ás semifinais devido as lesões geradas pelo adversário. Na ocasião, o irlandês chamou os dirigentes de trapaceiros.
Suspeita de manipulação de lutas em Londres 2012
A apuração promovida por McLaren também revelou a participação direta de um antigo presidente da AIBA, na manipulação de resultados antes e depois das Olimpíadas de 2012. Ele teria instruído um diretor a assegurar que os lutadores da Turquia estivessem na disputa. A razão era porque o país havia organizado uma temporada pré-olímpica com forte investimento financeiro.
Além disso, o ex-presidente teria ordenado que os boxeadores do Azerbaijão não conseguissem medalhas de ouro no boxe em Londres. Na ocasião, a BBC produziu um documentário indicado que uma empresa teria emprestado um valor considerável para a AIBA.
O dirigente comandou a entidade de boxe e fez parte do COI (Comitê Olímpico Internacional) até o ano de 2020. Depois disso, o russo Umar Kremlev, que solicitou a investigação, assumiu o comando da organização.
“A AIBA contratou o professor McLaren porque não temos nada a esconder. Também receberemos aconselhamento jurídico em relação a quais ações são possíveis contra aqueles que participaram de qualquer manipulação”, disse Kremlev.
Esquema de manipulação ameaça o boxe olímpico
Desde o ano passado, a AIBA está suspensa pelo Comitê Olímpico Internacional pela participação em crimes de corrupção. Entre 2017 e 2019, os presidentes na época, Wu Ching-Kuo, de Taiwan, e seu vice, Gafur Rakhimov, do Uzbequistão, tiveram que renunciar. Essa ação somente ocorreu porque sofreram pressão de investigações e do COI.
Todavia, a apuração coordenada por Richard McLaren faz parte da estratégia de recuperação da imagem da entidade. Em 2017, alegando que existia concentração do poder de decisão e de influência indesejável, a AIBA expulsou os árbitros considerados mais capacitados de seu quadro.
Apesar disto, alegou que nenhum deles estava envolvimento com manipulação de resultados. Neste ano, após as denúncias de corrupção e irregularidades financeiras, a AIBA não pode organizar o boxe em Tóquio.
Com as novas informações, há receio de que o boxe acabe fora do programa olímpico, já a partir da edição de Paris, em 2024. A tendência é que a AIBA colabore com a apuração do suposto esquema e a alteração na postura sob nova gestão ajude em uma retomada da sua relação com o COI.