O Campeonato Brasileiro 2019 entrou para a história por contar com a tecnologia (VAR) em todos os jogos. O modelo pode ser aprimorado para a próxima temporada com a liberação dos áudios de conversas entre a equipe de arbitragem no campo e na cabine do VAR. Além disso, a regulamentação das apostas esportivas no país tende a contribuir com essa medida.
Afinal, as apostas esportivas estão, direta ou indiretamente, mexendo com o pensamento de dirigentes de clubes de futebol do Brasil que exigem cada vez mais transparência na modalidade mais praticada no Brasil.
Uma prova desse impacto das apostas esportivas é a decisão tomada pela Confederação Brasileira de Futebol, conforme matéria escrita por Felipe Moura, no O Globo Esporte, no dia 19 de novembro. Confira a reportagem a seguir:
CBF estuda liberar os áudios do VAR a partir do ano que vem, diz Leonardo Gaciba
O presidente da Comissão Nacional de Arbitragem, Leonardo Gaciba, admitiu nesta terça-feira que a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) estuda a possibilidade de divulgar os áudios das conversas entre árbitro de campo e árbitro de vídeo a partir de 2020. Desde esse ano, todas as partidas do Campeonato Brasileiro contam com o uso do VAR, mas os clubes reclamam da falta de transparência nas decisões da arbitragem, uma vez que só podem ter acesso aos diálogos que ocorrem durante lances polêmicos se enviarem representantes à CBF.
— Sim. Pensamos sim em trazer o áudio. O presidente Rogério Caboclo já tá estudando. No início do ano que vem nós estamos pensando em evoluir. Estamos estudando essa divulgação ao público de alguns áudios, não todos. A gente vai pedir essa permissão à International Board, se todos, não todos, alguns deles vamos mostrar. Acima de tudo a gente quer dar transparência para o árbitro de vídeo, mostrar a transparência com que o processo é feito — disse o ex-árbitro da FIFA após participar de audiência na Câmara dos Deputados que debateu o uso do VAR.
O deputado Dr. Luiz Antonio Teixeira (PP-RJ) protocolou um Projeto de Lei que visa alterar o Estatuto do Torcedor e incluir a obrigação de a CBF divulgar os áudios das partidas com o uso do VAR. Segundo ele, isso é importante para evitar que problemas de compra de resultados que ocorreram no passado se repitam.
— Da nossa parte o que a gente quer é a transparência. O projeto de lei é pra que sejam divulgados os áudios e vídeos da cabine do VAR após as partidas, pra que a gente saiba exatamente como foi realizado o raciocínio de decisão. O futebol hoje vive um momento que a cada dia a gente vê crescimento dos números financeiros, num momento principalmente no avanço das apostas online, queremos que tenha transparência pra que não paire nenhuma dúvida de que a direção do VAR não tenha qualquer tipo de interferência — disse.
Embora não veja problema na publicação dos áudios, Gaciba disse que teme pela má interpretação dos termos técnicos usados pelos integrantes da arbitragem para analisar os lances.
— A única preocupação que eu tenho é as pessoas quererem interpretar o que se está falando e dar menos valor pra imagem. Se eu disser que um jogador deu uma entrada temerária no adversário, provavelmente o pessoal em casa vai achar que é uma entrada para cartão vermelho. Temerária é pra cartão amarelo. São termos da regra que a gente utiliza que muitas vezes o povo não vai entender — destacou.
Números do VAR até a 32ª Rodada
Ainda durante a audiência na Câmara, Gaciba aproveitou para destacar a atuação do VAR no Campeonato Brasileiro até a 32ª rodada, o que corresponde a 320 jogos. Ao todo, foram 188 revisões, em que o árbitro de vídeo chamou o de campo para rever alguma decisão que julgou errada. Dessas, em 158 (84%) o árbitro mudou a decisão inicial. Em outras 30 (16%), manteve.
Segundo Gaciba, o índice de acerto dos árbitros brasileiros sem o auxílio da tecnologia em lances capitais (pênalti, cartão vermelho, impedimento ou erro de identificação) era 78,3%, Agora, subiu para 98,3% com o uso do VAR.
— Se são 21 equipes disputando o Campeonato Brasileiro, eu tenho certeza que o melhor índice de aproveitamento é da minha, com muito orgulho. Nós como árbitros de vídeo estamos levando mais justiça ao futebol e acho que isso que é o mais importante que a gente tem pra contribuir — disse.
Outro ponto muito criticado no início da implementação do VAR no Brasil, era o tempo de demora nas decisões, que nos campeonatos estaduais chegou a seis minutos. Segundo os dados que o ex-árbitro divulgou hoje, o tempo médio no Brasileirão é de 1min49s. O tempo ainda está bem acima do ideal preconizado pela FIFA, que é de 1min15s.