Três bancos estaduais brasileiros preparam-se para explorar o mercado de loterias, impulsionados pelo crescimento das apostas esportivas. BRB (Distrito Federal), Banestes (Espírito Santo) e Banese (Sergipe) estão criando subsidiárias específicas para atuar nesse setor. A informação foi registrada em reportagem do portal Valor.
Com o avanço das “bets” e o domínio da Caixa no setor, essas instituições enxergam uma oportunidade de expandir suas receitas. Além disso, a presença regional e a capilaridade desses bancos podem ser diferenciais na captação de clientes.
Dos cinco bancos estaduais existentes, apenas Banrisul (Rio Grande do Sul) e Banpará (Pará) não têm planos semelhantes.
A decisão de investir no segmento surgiu após o Supremo Tribunal Federal (STF) determinar, em 2020, que a União não detinha monopólio sobre a exploração de loterias. Desde então, governos estaduais passaram a estruturar suas próprias operações, muitas vezes vinculadas aos bancos públicos locais.
Mercado promissor de loterias
O potencial desse setor é significativo. Em 2023, a Caixa arrecadou R$ 25,6 bilhões com suas loterias. Este ano, sua subsidiária Caixa Loterias concentrou as atividades do segmento e retomou a “raspadinha”, interrompida por quase uma década.

No Distrito Federal, o BRB havia firmado parceria com a portuguesa SCML para explorar loterias em 2023. No entanto, questionamentos legais impediram a assinatura do contrato.
Agora, o banco retomou o processo e contratou o BTG Pactual para avaliar alternativas. Diogo Oliveira, diretor de atacado e governo do BRB, afirmou que a projeção de arrecadação anual com loterias é de R$ 100 milhões.
“A lei não permite cassino físico, jogo do bicho e bingo, o resto em tese pode”, destacou Ricardo Pessanha.
Segundo ele, a credibilidade do banco pode atrair apostadores. “O banco tem capilaridade e a força da marca. As pessoas sabem que somos controlados por regulações e temos obrigatoriedades de segurança”.
Embora o BRB possua um banco digital em parceria com o Flamengo, as apostas serão restritas ao Distrito Federal. “Com geolocalização, conseguimos identificar se o cliente está no DF e oferecer ou não o serviço”, explicou.
Planos estaduais
No Espírito Santo, o Banestes também avança na estruturação da sua operação. O banco contratou a Genial para selecionar um parceiro, com previsão de conclusão até março.
Silvio Grillo, diretor de relações com investidores e finanças, ressaltou que a arrecadação será gradativa. “Existe uma curva de crescimento nos primeiros dois, três anos, mas esperamos que seja uma fonte de receita significativa”.
O presidente da Banestes Loteria, Ricardo Pessanha, afirmou que a distribuição será feita pela rede BanesFácil, com 400 pontos físicos, além de canais digitais. “Acredito que há um ‘cross-sell’ elevado colocando as loterias nesse canal. Os correspondentes bancários deixam de ser apenas transacionais para se tornarem pontos relacionais”.
O banco também cogita incluir videoloterias. “Hoje, uma grande parte das bets opera na clandestinidade. Queremos regularizar o que antes era feito em ambientes escondidos”, disse Pessanha.
Em Sergipe, o Banese optou por um consórcio com Culloden/TSA para ter participação minoritária na nova subsidiária. Assim, criada no mês passado, a unidade lançará produtos ainda neste semestre. “A operação de loterias exige canais robustos, soluções de pagamento eficientes e uma base de clientes diversificada”, declarou o Banese em resposta ao Valor.
O banco realizou estudos que estimaram o mercado lotérico de Sergipe em R$ 120 milhões em 2019, antes da expansão das bets. A meta da subsidiária é liderar o setor no estado em cinco anos, alcançando 50% do market share.
Caixa não teme a concorrência de outras loterias
Apesar da entrada dos bancos estaduais, a CEO da unidade de loterias da Caixa, Luciola Aor Vasconcelos, afirmou que a concorrência não preocupa. “Para a gente é bem tranquilo. Operamos em todo o país, mas acompanhamos o mercado”, disse.
Ela destacou que as diferentes modalidades não competem diretamente. “Um canibaliza o outro um pouco, mas não são concorrentes diretos. O mercado das bets está estabelecido, mas não afeta nossa atuação”.
Os bancos também se comprometeram a implementar medidas para prevenir o endividamento e combater o vício em jogos. Conforme Vasconcelos, essa é uma preocupação central da Caixa. “Vendemos sonhos e entretenimento, mas levamos a questão social a sério. No setor de bets, essa atenção será ainda maior”.
Por fim, enquanto os bancos estaduais devem operar suas loterias em parceria com empresas privadas, a Caixa seguirá atuando de forma independente.