A estudante da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), acusada de desviar quase R$ 1 milhão de recursos da comissão de formatura, realizou apostas na loteria após transferir o dinheiro dos estudantes para uma conta pessoal no final de 2021. Ela chegou a ganhar cinco vezes na Lotofácil em 2022, faturando, no total, R$ 326 mil, conforme o jornal Estadão.
A mulher, de 25 anos, fazia apostas de alto valor em uma lotérica de São Paulo. Na última vez que ela efetuar uma aposta, teria dado um golpe de R$ 192 mil no comércio. Um boletim de ocorrência (BO), de julho do ano passado, foi aberto na Delegacia Especializada em Investigações Criminas (Deic) de São Bernardo do Campo.
Uma representante da lotérica compareceu ao Deic e contou que a mulher vinha apostando todos os dias, sempre por meio de transferência via PIX. “A mulher teria deixado um prejuízo de R$ 192.908,47, após ter feito o agendamento do valor via PIX, sem pagar efetivamente pelas apostas que realizou”. Ela é investigada por lavagem de dinheiro e estelionato.
Foi tentando apurar a origem do valor usado nas apostas da jovem que a delegada Katia Regina Cristofaro Martins, do Deic, descobriu que ela havia ganhado na loteria. Mas, na época, os investigadores ainda não tinham conhecimento de que ela poderia ter desviado valores de outros estudantes de Medicina.
“Fiquei sabendo desse fato novo na última sexta-feira. Agora temos uma pista da origem do dinheiro e pretendo colher depoimento dos alunos da comissão de formatura e da empresa envolvida”, afirmou a delegada ao Estadão.
Dinheiro desviado
No dia 10 de janeiro, um aluno do curso de Medicina da USP realizou um B.O. contra a estudante. Conforme a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo, ele relatou aos policiais que a mulher teve acesso a aproximadamente R$ 920 mil, valor que seria utilizado para custear a formatura no final deste ano.
A SSP apontou que, ainda de acordo com a vítima, ele e outros estudantes descobriram a farsa apenas no dia 6 de janeiro, quando a própria suspeita teria dito aos colegas em um grupo no WhatsApp que o fundo para a formatura havia sido perdido.
A diretoria da faculdade afirmou que “a Comissão de Formatura e, portanto, os alunos aderentes à formatura da Turma 106ª, foram vítimas de fraude após investimento do recurso arrecadado para organização das festividades de celebração, que ocorrerá ao final de 2023. Os fatos estão sendo apurados, buscando-se identificar os responsáveis pela fraude e a Diretoria está apoiando na orientação aos alunos envolvidos”.
Segundo integrantes da comissão de formatura contatados pelo Estadão, a quantia para formatura vinha sendo levantada pela empresa Ás Formaturas há quatro anos e, no fim de 2021, a estudante, que era presidente da comissão, pediu a transferência dos recursos para uma conta pessoal sem autorização dos colegas. Essa manobra foi descoberta somente neste começo de ano.
Versão da estudante
Aos companheiros de curso, a aluna alegou que resolveu investir o dinheiro na corretora Sentinel Bank e, posteriormente, teria sofrido um golpe. Ela disse que a corretora sumiu com R$ 800 mil e o restante do dinheiro ela precisou gastar com advogados. Questionada sobre documentos que embasassem essa versão, a aluna declarou que foram levados em um assalto.
Em nota ao Estadão, a empresa Ás Formaturas disse que “todas as transferências foram realizadas rigorosamente conforme estabelecido nas cláusulas contratuais” e disse estar “à disposição das autoridades para o fornecimento de contratos, documentos, e-mails e demais informações”. A estudante e os representantes do Sentinel Bank não foram encontrados pelo jornal para comentar as acusações.