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Bruno Tolentino, tio de Lucas Paquetá, indo depor na CPI das Apostas. Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado

O relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Manipulação de Jogos e Apostas Esportivas do Senado recomenda o indiciamento de Bruno Tolentino, tio do jogador Lucas Paquetá, e dos empresários William Rogatto e Thiago Chambó Andrade.

Portanto, as autoridades os acusam de se envolverem em esquemas de manipulação de resultados no mundo do futebol. Entretanto, o documento não inclui o indiciamento de nenhum jogador.

O senador Romário (PL-RJ) elaborou o relatório, que será lido na CPI nesta terça-feira e votado na quarta-feira. Durante as investigações, a comissão convocou Lucas Paquetá e a influenciadora Deolane Bezerra, mas optou por não recomendar o indiciamento de ambos.

Paquetá, que joga pelo West Ham, ainda é alvo de uma investigação na Inglaterra por suspeita de envolvimento em manipulação de partidas do Campeonato Inglês.

A CPI também decidiu não pedir o indiciamento de Bruno Lopez, ex-jogador apontado como um dos líderes de um esquema de manipulação de jogos no Brasil. Ele firmou um acordo de não persecução penal com o Ministério Público.

Indiciamento do tio de Lucas Paquetá

O relatório pede o indiciamento de Bruno Tolentino pelo crime de oferecer ou prometer vantagem para alterar o resultado de competições esportivas. A pena prevista varia de dois a seis anos de prisão.

Durante a investigação, a CPI quebrou o sigilo bancário de Tolentino e constatou que ele pagou R$ 30 mil ao jogador Luiz Henrique, ex-Botafogo.

O atleta recebeu um cartão amarelo suspeito quando atuava pelo Betis, na Espanha, em 2023. Conforme o relatório, o valor teria sido um pagamento “por sua participação em manipulações”.

O “Rei dos Rebaixamentos”

William Rogatto, que confessou participar de esquemas de manipulação de resultados em depoimento à CPI, também é alvo do relatório. A CPI pede seu indiciamento por fraude em competições esportivas e por prometer vantagem para alterar resultados de jogos.

Thiago Chambó também é acusado dos mesmos crimes e suas penas somadas podem chegar a 12 anos de detenção.

Em pronunciamento, via videoconferência, William Pereira Rogatto. Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado

A Interpol prendeu Rogatto em novembro de 2024, em Dubai. Ele também foi alvo da Operação VAR, da Polícia Civil do Rio de Janeiro, que investiga a manipulação de jogos na Série B do Campeonato Carioca.

Conhecido como “Rei dos Rebaixamentos”, Rogatto afirmou na CPI que lucrou cerca de R$ 300 milhões com manipulação de resultados. De acordo com ele, o esquema causou 42 rebaixamentos de clubes em 26 estados brasileiros e no Distrito Federal, além de operações em nove países.

O Santa Maria, clube do Distrito Federal, acumulou apenas três pontos no campeonato estadual de 2024 e sofreu rebaixamento. A presidente do clube, Dayana Nunes, também depôs na CPI.

Posicionamento do Ministério Público-DF e próximos passos

O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MP-DFT) aponta Rogatto como chefe do esquema e como o principal responsável por manipular resultados de pelo menos dois jogos do campeonato.

Ele teria assumido a gestão do Santa Maria, prometendo formar um time competitivo, mas convenceu jogadores a manipular partidas para beneficiar apostas. A polícia atualmente investiga Rogatto nas operações Fim de Jogo, do MP-DFT, e Jogada Ensaiada, da Polícia Federal.

O relatório também acusa Thiago Chambó de desobedecer uma ordem judicial ao se recusar a prestar depoimento. Chambó foi preso na Operação Penalidade Máxima, do Ministério Público de Goiás, em 2023.

Conforme a investigação, ele fazia parte do grupo que financiava a manipulação de jogos e levantava dinheiro para pagar os jogadores envolvidos.

Em depoimento via videoconferência, ex-jogador e empresário, Bruno Lopez de Moura. Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado

Bruno Lopez, ex-jogador e delator do esquema, afirmou na CPI que “Chambó oferecia e negociava repasses aos jogadores que topassem participar do esquema”. Lopez acrescentou que “o valor pago chegava a R$ 70 mil por cartão amarelo e, para expulsões e pênaltis, poderia chegar a R$ 150 mil”.

Se aprovado, o relatório será encaminhado ao Ministério Público e à Justiça. O advogado Leonardo Ruiz Machado, sócio do escritório Viseu, destaca que “as autoridades podem ou não acatar as recomendações da CPI”. Ele também ressaltou a ausência de jogadores no pedido de indiciamento.