CPI-das-Bets-Anatel-propoe-expansao-de-funcoes-para-bloquear-apostas-ilegais
Representantes da CPI das Bets e Anatel - Foto: Roque de Sá/Agência Senado

A Anatel quer mais poder para remover empresas que violam regras no Brasil. Na última terça-feira (17), na CPI das Bets, Gesilea Fonseca Teles, superintendente de Fiscalização, destacou essa necessidade.

Ela também sugeriu que a Anatel tenha poderes legais reforçados para melhorar a fiscalização e aplicar sanções no setor. Gesilea Teles representou Carlos Manuel Baigorri, diretor da Anatel, que está em período de férias.

Conforme Gesilea, atualmente, o bloqueio de sites de apostas ilegais segue as diretrizes do Ministério da Fazenda. Um acordo de cooperação formaliza o sistema de comunicação entre os órgãos. A Secretaria de Prêmios e Apostas (SPA) fornece a lista de sites, e as provedoras de internet bloqueiam esses sites.

Superintendente de Fiscalização da Anatel, Gesilea Fonseca Teles – em depoimento a CPI das Bets. Foto:Roque de Sá/Agência Senado

Gesilea Teles detalhou: “Desde outubro de 2024, a Anatel já atuou no bloqueio de mais de 8.560 sites de apostas ilegais. E como que funciona esse bloqueio? O Ministério da Fazenda nos encaminha uma lista com sites que devem ser bloqueados.

A Anatel, de posse dessa lista, comunica às prestadoras que dão acesso à internet. Quem são essas prestadoras? São as prestadoras de internet móvel, que a gente conhece por celular, e as prestadoras de internet fixa. De quantas prestadoras estamos falando? São mais de 21 mil prestadoras.”

Localização mascarada por VPNs

Ela explicou que a Anatel apenas notifica as prestadoras sobre a decisão do ministério, não realizando o bloqueio diretamente.

Gesilea Teles também afirmou: “Todo esse procedimento que a Anatel adota, a gente não consegue ter ingerência sobre a rede das operadoras. O que a gente faz é meramente uma comunicação de uma decisão que não é de nossa competência.”

Gesilea alertou que o uso de VPNs por usuários enfraquece a atuação da Anatel, pois permite mascarar a localização e evitar bloqueios.

Ela disse: “A VPN faz uma conexão criptografada entre o usuário e o servidor da VPN e aí você não sabe onde aquele usuário está.

Então se esse usuário se conectar a uma VPN no exterior, por exemplo, as prestadoras de comunicação aqui não sabem que ele está no Brasil. E ele está fisicamente no Brasil, mas virtualmente ele não está. É uma forma de burlar uma ordem de bloqueio.”

Sites ilegais mudam o nome para dificultar o bloqueio

Outro problema é a rápida troca de nomes pelos sites ilegais, dificultando o bloqueio contínuo. A Anatel só pode bloquear novos sites quando o Ministério atualiza a lista.

Gesilea Teles destacou: “Os próprios sites ilegais, eles podem mudar os nomes deles. Então hoje o que é ABC Bet, amanhã ele muda para ABCD Bet.

Ele faz uma alteração de uma letra no site dele e a Anatel trabalha com uma lista fechada que nos é encaminhada pelo Ministério da Fazenda.”

Relatora da CPI das Bets, senadora Soraya Thronicke – Foto: Roque de Sá/Agência Senado

A senadora Soraya Thronicke comparou a situação a “enxugar gelo“, afirmando: “O VPN não é ilegal, mas eles conseguem mudar apenas um ponto, uma letra, e continuarem com a mesma plataforma, continuando com outro nome.

É algo que nos impressiona sobremaneira, eu costumo dizer que nós estamos tentando trocar o pneu com o carro andando e nós estamos muito atrasados. Porque eles já estão anos luz a nossa frente.”

Anatel considera parcerias com provedores de VPN para combater bets irregulares

Gesilea informou ao senador Izalci Lucas que a Anatel considera parcerias com provedores de VPN para melhorar as notificações. A superintendente defendeu mudanças no Marco Civil da Internet para permitir que a Anatel fiscalize e sancione serviços de conectividade.

Ela comentou: “Exatamente para ampliar as competências da Anatel. A gente tem que conseguir alcançar os DNS, a gente tem que conseguir alcançar os CDNs para a gente ter uma atuação mais forte e a competência fiscalizatória em cima do que está acontecendo no mundo das bets. Da forma que está a delimitação legal, nós não temos essa competência.”

Atualmente, a Anatel apenas transmite ordens judiciais e administrativas para bloqueio de sites.

Gesilea Teles explicou: “É importante que possa haver uma modernização do Marco Civil da Internet para que tanto o provedor de conexão da internet quanto os responsáveis pelos demais serviços habilitadores de conectividade e os provedores de aplicação de internet possam ser responsabilizado civil e administrativamente, caso eles desobedeçam ordens judiciais e, o mais importante, ordens administrativas.”

Soraya mencionou ter recebido um anteprojeto e está negociando com o Executivo para realizar mudanças através de medida provisória.

Ela afirmou: “Ele [Carlos Manuel Baigorri] entregou essa minuta de um pré-projeto, mas nós discutimos também, diante da urgência e da relevância, que são os requisitos de uma MP, nós estamos aguardando uma agenda com o ministro Fernando Haddad para que ele decida se vai fazer uma medida provisória (…), seria uma forma mais rápida. Porque projeto realmente demora muito.”

Anatel e a resistência de outras plataformas

Izalci Lucas destacou a resistência de grandes plataformas como Google e Meta e perguntou como a Anatel pretende lidar com isso se o Marco Civil for alterado.

Gesilea Teles esclareceu: “Quando a gente pensa a alteração do Marco Legal, e aí a gente cria um lastro legal para que a Anatel possa atuar, eu acho que as plataformas que atuarem no Brasil, elas têm que se ajustar, elas têm que aceitar o arcabouço legal do Brasil e não vão poder contestar a competência da Anatel.

Hoje essa dúvida sobre a competência existe porque não está claro, não está escrito que podemos atuar sobre as plataformas legais. Uma vez que isso seja solucionado, elas não vão poder contestar.”

A senadora Damares Alves sugeriu que a CPI das Bets apresente o projeto se o governo não enviar uma medida provisória.

Em pronunciamento, à bancada, senadora Damares Alves – Foto: Roque de Sá/Agência Senado

Ela afirmou: “Então se a gente puder apresentar, se o governo não mandar como MP, a gente apresentar, e, na primeira semana [de fevereiro], na próxima sessão, a gente deliberar, é uma grande entrega dessa CPI das Bets. Mas também não é só mudar as atribuições, o marco; é também equipar a Anatel.”

Soraya questionou sobre desafios como restrições de investimento e acesso a novas tecnologias. Gesilea respondeu que a Anatel precisa de mais pessoal e investimento, especialmente se suas competências aumentarem.

Izalci Lucas sugeriu que empresas legais ajudem a desenvolver sistemas para rastrear e bloquear sites ilegais. “Eles podem realmente contribuir com isso. Porque eu acho que o Ministério da Fazenda vai ter muita dificuldade de acompanhar esses sites que ficam mudando de minuto em minuto.”

Requerimentos e convocações da CPI das Bets

Na reunião, senadores aprovaram oito requerimentos, incluindo a convocação de Beatriz Salles Melges, diretora da BetConstruct, e a solicitação de um inquérito policial sobre lavagem de dinheiro envolvendo o Corinthians e a Vai de Bet.