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O notável crescimento dos eSports no últimos anos vem criando – e incentivando – uma nova geração de jogadores profissionais. Hoje em dia, os esportes tradicionais ‘competem’ com uma nova modalidade, os jogos eletrônicos competitivos, que estão conquistando mais espaço entre os jovens e amantes dos games.

Hoje em dia, os eSports já contam com diversos times ao redor do mundo, com elencos e jogadores competindo em jogos como: League of Legends, CS:GO, Valorant, Dota 2 e muitos outros. No Brasil, um dos times mais conhecidos é o MIBR, que já teve conquistas importantes no cenário competitivo.

A CEO do MIBR, Roberta Coelho, concedeu uma entrevista à EXAME, onde cita que deseja abrir mais espaço para as mulheres no eSports, que hoje em dia seguem como a minoria entre os profissionais do segmento.

Confira abaixo a matéria sobre as mulheres no eSports na íntegra

Algumas décadas separam a executiva Roberta Coelho e o mais antigo time de eSports do Brasil, o MIBR. Enquanto Roberta galgava sua carreira trabalhando nas mais diversas multinacionais, o MIBR enfrentava altos e baixos nesses quase 20 anos de atuação no cenário competitivo dos games no Brasil.

Em 2021, porém, esses caminhos se cruzam: Roberta Coelho torna-se a CEO do MIBR – a primeira CEO mulher de um time de eSports no Brasil.

Roberta, que trabalhou durante anos como CFO do Rock In Rio, um dos maiores festivais de música do mundo, conta que a transição de carreira do meio financeiro para o cenário de entretenimento foi praticamente natural.

“Estamos com os dois pés no cenário feminino e, enquanto eu estiver a frente do time, não sairemos nunca mais”, diz Roberta Coelho, CEO do MIBR. (MIBR/Divulgação)

“Dentro do próprio Rock in Rio, eu sempre me interessei por tocar e aprender com outros projetos no paralelo. Até que, em 2016, eu iniciei essa troca de carreira dentro do próprio festival, quando eu deixei de ser CFO para me tornar Diretora de Novos Negócios”, conta a executiva em entrevista à EXAME.

E o novo projeto não poderia ter dado mais certo. Logo na edição de 2017, Roberta, movida pelo entendimento que o Rock in Rio deveria ser mais do que só um festival de música, trouxe uma frente de negócios até então inédita para o evento: a Game XP, que viria a ser um os maiores projetos de casa e ganharia tração própria no ano seguinte.

“Resolvemos criar a Game XP, um bairro dentro do festival totalmente voltado para games e a cultura desse setor. Foi um grande investimento na edição de 2017 e uma grande aposta para o festival como um todo. E foi um sucesso absurdo. O link entre música e games se mostrou realmente forte”, conta Roberta.

“O Rock In Rio conseguiu entender essa conexão entre as áreas muito antes de existir qualquer show dentro do Fortnite. A ideia sempre foi levar novos conteúdos que conversem com esse amante de música e que posicionassem o Rock in Rio cada vez mais como um evento de entretenimento. “, complementa a executiva.

Os desafios de 2020 e a criação da Grrrls League

Assim como todos os eventos presenciais em 2020, o Rock In Rio teve de ser cancelado em função da pandemia. O que trouxe novos desafios para o recém-criado Game XP.

“Após o cancelamento do evento em função da pandemia, houve o desafio da Game XP se reposicionar. A Game XP tem uma história como uma boa filha do Rock in Rio, com um olhar de entregar experiências aos consumidores. A Game XP nasce para ser um evento presencial, nunca havíamos pensado em um formato digital. Então criamos novos conteúdo para esse momento”, explica a executiva

A frente da Game XP, Roberta foi fundamental para o início de um projeto que viria a dar muitos frutos nos anos seguintes: a criação da Grrrls League, uma liga feminina de eSports – algo inédito no Brasil.

“Tenho orgulho de dizer que criamos e administramos a primeira liga feminina de eSports no Brasil e, ate hoje, essa é a maior liga já feita no pais em termos de premiação, com mais de R$ 680 mil reais entre ajuda financeira e premiação para os times participantes”, conta Roberta.

E, na visão da Roberta, a criação dessa primeira liga feminina, que ainda se mantém operante, foi fundamental para que os times de eSports no Brasil passassem a investir nos seus times femininos.

“Foi por conta dessa ajuda financeira que grandes times de eSports do Brasil, como o MIBR, montaram suas lines femininas. Tanto o MIBR quanto a FURIA montaram seus primeiros times femininos para jogarem essa liga”, explica a hoje CEO do MIBR.

A chegada ao MIBR

Após o sucesso do Game XP, Roberta foi convidada e aceitou o desafio de se tornar a CEO do MIBR, em um período um tanto quanto complicado para a equipe.

Embora o MIBR seja o time de eSports mais antigo em atividade no país, sua história é marcada de altos e baixos.

Fundado em 2003, o MIBR conquistou o primeiro título mundial do Brasil no eSport. A marca, porém, foi desativada em 2012 e voltou em 2018 depois da empresa americana Immortals Gaming Club (IGC) adquirir os direitos da marca.

Antes da chegada da executiva, a gestão do MIBR era feita pela IGC. Avaliada em 210 milhões de dólares, a Immortals é considerada a quinta maior empresa de eventos de eSports no mundo.

Assim que aceitou a proposta, Roberta conta que três principais fatores balizaram seus primeiros passos no comando do MIBR: o reposicionamento da marca como time para seus fãs, o renascimento da potencia MIBR como empresa e a necessidade de incluir cada vez as mulheres nesse canário dos eSports, ainda muito masculinizado.

“Hoje eu não tenho vergonha de dizer, não sou uma gamer hardcore, mas sou uma completa apaixonada pelo cenário”, diz.

Ela conta que a ida para o MIBR não foi por sua capacidade técnica ou conhecimento do setor, mas pela sua trajetória com experiência de projetos de reposicionamento. E foi o que viveu intensamente com o time: reposicionar a marca com o olhar do fã.

“Falando pelo MIBR, montamos nosso primeiro time de mulheres justamente para jogar a Grrrls League no final de 2020 e hoje, menos de dois anos depois, eu posso dizer que estamos com os dois pés no cenário feminino e, enquanto eu estiver a frente do time, não sairemos nunca mais”, completa a executiva.

Um novo capítulo

Roberta conta que chegou ao MIBR para escrever uma nova página na história desse time: uma marca antiga, com fãs apaixonados e que, literalmente, leva o Brasil no nome. MIBR é a sigla de Made In Brazil.

“São 20 anos de história nesse ano, mas sinto que somos super jovens ao mesmo tempo”, diz.

E, falando da necessidade de fomentar a inclusão das mulheres no cenário, Roberta explica que essa é uma das suas principais bandeiras de atuação à frente do MIBR.

“O universo dos games é para todos. Nós como mulheres precisamos nos posicionar com força nisso. Eu trabalho com games, mas não sou jogadora. É um universo riquíssimo que precisa ser mais inclusivo e onde as mulheres precisam se sentir pertencentes nesse cenário”, explica.

Mensalmente, a executiva conta que realiza uma reunião com todas as mulheres que trabalham na empresa – incluindo as atletas, chamada MIBR Woman. Para ela, é fundamental fomentar nessas jovens meninas no cenário o empoderamento, seja como profissional ou como jogadora.

“Desde a criação da Grrrls League, penso em como podemos ir além, como podemos combater esse preconceito na raiz. E eu acredito que, para isso, empoderar essas mulheres é fundamental. A mulher que acredita no seu próprio potencial e pertencimento naquele espaço é a maior arma para que esse preconceito seja cada vez mais insignificante”, explica a executiva.

Nessas reuniões, a historia e a trajetória da Roberta viram um exemplo a parte para essas funcionárias. Se, em um cenário tão preconceituoso e machista como o dos games, uma mulher tornou-se CEO da empresa mais antiga do setor no país, essas meninas também conseguem.

“Quero fomentar esse empoderamento entre as nossas funcionárias, seja como jogadora ou influenciadora, mas principalmente como mulher profissional. Quero mostrar para essas meninas que, se eu cheguei até aqui, qualquer uma também pode”, explica a executiva.

“Queremos trazer a mulherada para consumir, para jogar, para treinar, para consumir. Formar uma rede engajada de torcedoras, jogadoras e profissionais capacitadas. Quanto mais mulheres consumirem, mais marcas femininas estarão nesse universo e o setor fica cada vez mais amigável para essas meninas”, finaliza Roberta.