BgC Digital Experience 2020 debate a volta dos cassinos, modelo de negócios para o Brasil e jogo responsável

A edição 2020 do Brazilian Gaming Congress (BgC) começou na terça-feira (8) e contou com alguns dos principais nomes do setor de jogos no país.

Nesta quarta-feira, último dia de evento, o BgC Digital Experience contou com mais três debates, que trataram de assuntos como: a volta dos cassinos no Brasil, o modelo de negócio que deverá ser implantado ao mercado brasileiro, além de Jogo Responsável e proteção ao jogador.

Painel: A volta dos Cassinos no Brasil

O primeiro painel teve a moderação do presidente do Instituto de Desenvolvimento Turismo (IDT), Bruno Omori e tratou dos projetos em discussão no Congresso Federal que avaliam a retomada dos cassinos no território nacional.

O debate também contou com Regis de Oliveira (jurista, professor e ex-Deputado Federal), Angelo Coronel (senador pelo PSD-BA) e Ilana Klein (diretora sênior LatAm da Playtech).

“Nós precisamos de um trabalho coletivo, todo o país se unindo para desmitificar mentiras contra o jogo, há vantagens e desvantagens, mas as vantagens são muito superiores. Temos que ter um esforço coletivo para o marco regulatório do jogo no Brasil”, afirmou Regis de Oliveira.

De acordo com o moderador do painel, entre 10 e 70 bilhões de dólares poderiam ser injetados no Brasil pelo mercado nacional e internacional envolvendo inúmeros setores, além de bilhões de reais em impostos e divisas. Omori ainda frisou que a aprovação de jogos poderia fazer com que o país “tenha uma retomada de economia para gerar emprego e renda”.  

Questionado sobre o debate da legalização do jogo no país, o senador Angelo Coronel afirmou que “legalização vem tarde. O Brasil perde receita a cada ano por hipocrisia de alguns colegas congressistas que encaram nos jogos um incentivo a lavagem de dinheiro, precisamos encarar os jogos com realidade. E, precisamos agora partir para a aprovação dos cassinos resorts que darão um boom a economia, somado a outras modalidades”.

Ele acrescentou: “é importante lembrar que jogo fazem parte do nosso cotidiano. Hoje, jogo ilegal ultrapassa o jogo legal no Brasil. Conforme as estimativas, mercado legal movimentou R$ 17 bilhões em 2019, enquanto o ilegal rendeu R$ 27 bilhões. O que não existe é política pública para recursos de jogos e retorno para sociedade”.

Importância da aprovação do jogo no Brasil

O moderador Omori questionou ao senador se mercado de jogos seria aprovado se fosse votado neste momento no Congresso Nacional. “Eu acredito que a pauta tem os votos necessários para aprovação, mas é necessário dialogo e passar para população os benefícios que a regulamentação trará. Porque não adianta somente que o parlamento vote e aprove, o apoio popular é essencial”, afirmou Coronel.

Oliveira também pontuou os benefícios da aprovação de todas as modalidades. “Trazer para legalidade todos que estão na ilegalidade hoje e dar dignidade para essas pessoas, que pagarão tributos. Pelos cálculos mais modestos – com jogo todo legalizado- teremos cerca de R$ 20 bilhões de recursos a mais. Eu diria que a que parte tributaria, geração de empregos e dignidade para pessoa humana. É absolutamente necessário que isso seja feito, a legalização do marco regulatório do jogo no Brasil”.

Regis Oliveira também lembrou que há possibilidade da aprovação ocorrer com intervenção do Supremo Tribunal Federal. “A proibição do jogo é incompatível com a Constituição atual e o STF tem que dar uma resposta. Nós participamos de uma ação e caso o Supremo entenda que a norma proibitiva é incompatível, estará liberado o jogo no Brasil. Bastando ao governo regulamentar o jogo”, explicou.

Já Ilana Klein revelou que a Playtech tem grande interesse em investir no mercado nacional a partir da regulamentação do setor. “O Brasil, um pais tão grande e mercado mais importante da América Latina. Estamos esperando uma regulamentação para todos os setores, um ecossistema completo com capacidade omni-canal. Estamos muito empolgado especificamente com o mercado de apostas esportivas que é nosso negócio primário”, declarou

Painel: Adaptando o modelo de negócio ao mercado brasileiro

O segundo bate-papo se focou na “tropicalização” dos negócios visando alcançar o sucesso no cenário brasileiro. A moderação ficou com Thomas Carvalhaes (Brazil & LatAm Manager da Hero Gaming), que teve a companhia de José Colagrossi (diretor executivo do Ibope Repucom), Jennifer Innes (Managing Diretor da Bettingjobs.com) e Stuart Hunter (diretor geral de Eventos da Clarion Gaming).

Na abertura, Carvalhaes apontou a relevância de reunir diferentes olhares sobre o mercado do Brasil, uma vez que “as empresas que querem entrar no mercado brasileiro podem esquecer que não é apenas sobre o cliente brasileiro, mas sobre quem vai atender”.

A partir disso, Jennifer Innes frisou que “se você não tem a base de clientes no coração, não haverá sucesso no mercado. Há empresas tentando uma aproximação, não só no mercado do Brasil, usando a estratégia errada e produto errados, e as pessoas erradas. Só que para tornar uma estratégia relevante, é necessário ter o aspecto humano”.

Além disso, José Colagrossi declarou que há três pontos determinantes para o sucesso na América Latina: “Se você não entender: os impostos, a regulamentação e a cultura, dentro da LatAm, vai falir, porque essas três coisas afetam qualquer negócio a tal ponto que se não personalizar, seu plano de negócio falhará”.

Em relação ao desafio de continuar a interagir com parceiros e clientes em um ano tão atípico, Stuart Hunter citou sua experiência. “A LatAm tem acesso a proposta de lives. Nós criamos uma proposta digital com oportunidade de aprendizado e networking. Mas, o ICE London é o nosso produto principal que atende o mercado mundial e estamos nos preparando para voltar no próximo ano, enquanto isso queremos estimular a experiência ao vivo”, pontuou.

Perfil do jogador brasileiro

De acordo com Carvalhaes, a Brasil é considerado a próxima novidade devido ao enorme potencial. “Mas um ponto importante é a demografia e o perfil especifico do jogador brasileiro nas apostas. Por isso, é essencial levar isso em consideração no momento de preparar a estratégia”, afirmou.

O diretor do executivo do Ibope salientou que “esports, eu diria nos últimos dois anos, vem sendo o entretenimento de crescimento mais rápido no Brasil, cresce mais rápido que esportes tradicionais, música, cinema e teatro. Há muita energia por trás dia e grandes patrocinadores. E o perfil dos fãs e jogadores é bem diverso, na verdade”.

Ele continuou: “Ao contrário do que muitos pensam, não estamos falando de crianças, adolescentes ou universitários apenas. O público, mais da metade, de jogadores e fãs de esports, quem joga e assiste, há uma grande porcentagem de pessoas acima de 35 anos, empregadas e que assistem e jogam porque decidiram usar assim o seu tempo livre. E entre 25% a 30% do público já é formado por mulheres, um público que está crescendo”.

E, na tentativa de explicar o motivo para o crescimento muito mais acelerado das apostas em esports do que em esportes tradicionais, Colagrossi afirmou que “sociedade está caminhando rumo ao digital. Mas, um ponto que percebemos nos estudos é que os apostadores não fazem pela somente chance de ganhar dinheiro ou pela ação, mas por estar conectados com pessoas que também estão apostando”.

Painel: Jogo é coisa séria: Governança Corporativa & Compliance no setor

O painel de encerramento da BgC foi moderado por Mauro De Fabritiis (Fundador do MDF Partners) e tratou das melhores práticas para assegurar a proteção aos jogadores e os mecanismos para evitar a lavagem de dinheiro.

Além disso, a conversa envolveu Itamar Pereira (Membro da Associação Internacional de Reguladores de Jogos e Assessor Técnico do Ministério da Economia) e André Gelfi (Managing Partner Brazil do Betsson Group).

Conforme De Fabritiis, o mercado de jogos apresentou crescimento entre 2013 e 2020, mas foi afetado negativamente pela pandemia de novo coronavírus. As lojas online se apresentam como exceção, já que estão crescendo mesmo neste ano atípico.

“O mercado global online está em torno de 65 bilhões de euros como nosso foco para 2020, impulsionado pelas apostas esportivas e cassinos. Mas, como chegamos nesse ponto? A maioria dos países criou regulamentações. Brasil deve ser regulamentado em breve, todos esperamos isso”, afirmou.

O fundador da MDF Partners também reforçou que o mercado é o resultado da ação de consumidores, reguladores e operadores. “Cada um deve agir de uma maneira que defina uma posição confortável para criar um ambiente seguro para o jogador”.

O assessor técnico do Ministério da Economia concordou com a relevância dos jogos responsáveis não somente para os reguladores do Brasil, mas do mundo inteiro. “Jogo responsável é um ponto chave para a regulamentação. Sem jogos de apostas responsáveis, é impossível aos reguladores ir além. Acho que vale o mesmo aos operadores. Os três pontos: consumidor, regulador e operadores tentando encontrar um balanço”.

Tendências para jogo responsável na LatAm

O moderador também questionou quais as tendências, em termos de atitudes de apostas responsáveis em países latinos em comparação com os mercados europeus.

“Há países que estão aprimorando e ainda há países que estão debatendo a regulamentação, como o Brasil. Somos mais imaturos que a Europa. Mas indo em direção ao que tem sido aprendido na Europa, essas são as referências. Eu acredito e como parte do Betsson Group, os jogos responsáveis são herdados, parte de uma mindset que temos”, afirmou Gelfi.

Mecanismos contra lavagem de dinheiro no Brasil

Na sequência, De Fabritiis comentou que o combate a lavagem de dinheiro e o jogo responsável são os principais jogos da regulamentação e o “Brasil, como outros da América Latina, tem áreas criticas e problemas relacionais a isso.

Na visão de Itamar Pereira, esses são as questões mais importantes dentro da regulamentação. “E, digo mais, é o aspecto chave para convencer a sociedade do quão forte é o regulamento e a operação. Mas, acho que o Brasil está preparado para isso”.

Pereira acrescentou: “E o Ministério da Economia é o setor do governo brasileiro que precisa fazer a regulamentação abaixo da lei. Temos uma regulamentação específica que foi uma ordenação 537 de 2013 e lida com lavagem de dinheiro e sua prevenção em operação de loteria. Estamos totalmente preparados para esse passo em direção a regulamentação no Brasil, considerando o que já temos funcionando no país”.

Por fim, o representante do Ministério da Economia citou a necessidade de criar uma cultura de jogo responsável junto ao público. “Acredito que precisamos criar uma cultura de jogo responsável em um país que está fazendo os primeiros desenvolvimentos, como o Brasil. Comunicar aos jogadores como é importante ver as apostas como uma atividade divertida e social”.