Um estudo da LCA Consultoria Econômica, em parceria com uma entidade do setor de apostas, revelou números surpreendentes sobre o mercado de apostas online esportivas no Brasil.
Enquanto o estudo apresentado pelo Banco Central estimou um impacto anual de R$ 216 bilhões, a LCA mostrou que o gasto líquido real gira em torno de R$ 16,3 bilhões por ano. Isso representa apenas 0,5% do consumo total das famílias brasileiras.
Números das apostas online
Os números revelam que, ao descontar os valores devolvidos como premiação, a realidade das apostas parece menos alarmante. De acordo com a pesquisa, o endividamento dos brasileiros não aumentou de forma significativa, indicando que a prática de apostar está mais situada dentro de limites controláveis do que uma ameaça financeira generalizada.
Na última análise do Banco Central, dados sobre transferências através do PIX para plataformas de apostas online foram o destaque. Assim, o montante ficou entre R$ 18 bilhões e R$ 21 bilhões mensais de janeiro a agosto. Contudo, o estudo do Instituto Brasileiro de Jogo Responsável (IBJR) sublinha que esses números não refletem o tamanho absoluto do mercado.
Como aponta Eric Brasil, diretor da LCA: “Não é que o Banco Central erre a conta. Ele mesmo estima que 15% do valor é efetivamente retido pelas casas de aposta”. Assim, se 85% voltam aos apostadores, isso torna o mercado grande, mas “não um monstro”.
Ou seja, a estimativa é de que a receita real das plataformas seja de aproximadamente 7%, com um resultado anual de R$ 16,3 bilhões, enquanto o BC projetou cerca de R$ 35 bilhões.
A polêmica também gira em torno do uso do Bolsa Família em apostas online. Em agosto, beneficiários do programa gastaram aproximadamente R$ 3 bilhões em apostas online, segundo o relatório do Banco Central.
Eric Brasil ressalta que “se forem descontadas as premiações, o gasto líquido em agosto ficaria em R$ 450 milhões, o que corresponderia a 3% do valor do programa”.
A realidade das finanças das famílias brasileiras
A postura do Banco Central é de não se manifestar sobre essas questões. Mas a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) propõe a formação de um grupo de trabalho multissetorial. Assim, o objetivo é aprofundar o estudo dos impactos econômicos das apostas, buscando um diagnóstico mais preciso.
O estudo da LCA também analisa como as apostas online afetam a dívida e o consumo das famílias. A pesquisa indica que a receita das plataformas corresponde a apenas 0,2% a 0,5% do total de consumo, dependendo das fontes utilizadas.
Portanto, em relação ao PIB, o setor de apostas ainda representa apenas 0,1% a 0,3% da renda nacional. Outro aspecto abordado é a oscilação no percentual de famílias endividadas.
Dados da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) mostram que a inadimplência tem se mantido estável, longe de representar um problema sistêmico ligado às apostas. Mesmo assim, um estudo recente indica que a captação de recursos pelas plataformas resultou em uma leve revisão na previsão de crescimento do varejo brasileiro para 2,1%.
Entretanto, a CNC alerta que a inadimplência no primeiro semestre afetou cerca de 1,3 milhão de brasileiros, incluindo apostas nesse cenário. Felipe Tavares, economista-chefe da CNC, explicou: “esse 1,3 milhão foi distribuído ao longo do ano” e que “temos um movimento de entrada e saída de inadimplentes”.
Portanto, esses dados sugerem que a situação da inadimplência se mantenha estável mesmo com as apostas online liberadas desde 2018. Mas a discussão sobre o impacto delas continua a ser relevantes, especialmente em um cenário de crescente popularidade desse tipo de entretenimento.