Felippe Marchetti, gerente de integridade da Sportradar AG, testemunhou na CPI da Manipulação de Jogos e Apostas Esportivas nesta terça-feira (18).
Ele detalhou os métodos da empresa para detectar fraudes e opinou que muitos clubes e jogadores no Brasil estão vulneráveis a propostas de empresários ligados à manipulação de resultados.
Além disso, destacou a atuação internacional dos fraudadores e defendeu a necessidade de educar os jogadores contra a manipulação.
Em seu requerimento de oitiva (REQ 42/2024), o senador Romário (PL-RJ), relator da comissão, citou um relatório de março da Sportradar.
Este relatório destacou o Brasil como “campeão mundial de fraudes” no setor, com 109 partidas suspeitas em um total de 9 mil analisadas.
Marchetti mencionou a experiência da Sportradar em parcerias com ligas esportivas e autoridades policiais em todo o mundo. Ele ressaltou que os manipuladores de resultados descobriram melhores oportunidades na América Latina quando a Europa intensificou o combate às fraudes.
Marchetti afirmou: “A grande maioria dos atletas no Brasil está em condição de vulnerabilidade econômica. Eles [os manipuladores] viram um cenário muito propício para a manipulação aqui, e a partir de 2015 vimos um aumento de casos. (…) Quem está mais suscetível, mais vulnerável, são os atletas de clubes pequenos”.
Inteligência artificial no combate às fraudes
Marchetti explicou que a empresa utiliza inteligência artificial para monitorar em tempo real as cotações em casas de apostas, legais e ilegais.
A tecnologia compara a movimentação de apostas real com a esperada, gerando relatórios que já levaram a importantes investigações no Brasil. Ele ressaltou, contudo, que a análise qualitativa é essencial para complementar a exposição de estatísticas.
Em resposta a Romário, Marchetti afirmou que as casas de apostas estariam interessadas em combater as fraudes, pois também perdem dinheiro com a manipulação.
No entanto, ele observou a falta de meios para que empresas de apostas sediadas no exterior comuniquem irregularidades às autoridades brasileiras. Ele defendeu a adesão do Brasil à Convenção de Macolin, que trata do combate internacional à manipulação de resultados esportivos.
“Esse fluxo de informação entre todos os atores é fundamental para o combate ao sistema [de fraudes], para que não só as casas de apostas, mas também atletas, dirigentes e todos os interessados na proteção do esporte saibam a quem recorrer, como recorrer e de que forma essa informação vai ser trabalhada depois da denúncia”, explicou Marchetti.
Marchetti afirmou que as casas de apostas também são vítimas de fraudes: “Vejo com bons olhos uma casa de apostas patrocinar um serviço de integridade para uma federação esportiva, ou patrocinar um workshop para os clubes que patrocina”.
Resposta às alegações de John Textor
Em resposta a Romário, Marchetti afirmou que a Sportradar não detectou anomalias nas partidas mencionadas por John Textor, sócio majoritário do Botafogo. “Inclusive, a movimentação do mercado de apostas vai contra as alegações”, explicou.
O presidente da CPI, senador Jorge Kajuru (PSB-GO), citou a reunião secreta do colegiado com John Textor, na qual a maioria dos senadores viu indícios de provas. Marchetti defendeu a análise da Sportradar, afirmando:
“Dentro da nossa técnica, dos nossos parâmetros de avaliação, que são (…) validados tanto cientificamente quanto pela Corte Arbitral do Esporte, a gente não verificou nenhuma evidência nem nenhum indício de manipulação de resultados nas partidas citadas”.
Marchetti considerou desnecessária uma acareação entre representantes da Sportradar e da Good Game!, empresa citada por Textor, afirmando que “quem tem que explicar a metodologia com que trabalha é a empresa que está fazendo as acusações”.
CPI das Apostas: Implicações de crime organizado
Os senadores expressaram preocupação com a suposta dívida da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, que comprou a empresa MCE, operadora de jogos da Loteria do Estado do Rio de Janeiro (Loterj), com o Primeiro Comando da Capital (PCC).
Marchetti declarou desconhecer o caso específico ou quaisquer casos de envolvimento do crime organizado em manipulação de resultados no Brasil, mas não descartou a hipótese.
“É o que a gente vê internacionalmente, por exemplo, na máfia da Albânia, que tem envolvimento com tráfico de armas e tráfico de pessoas. Esses caras têm envolvimento com manipulação de resultados na região dos Balcãs.
Então, pensando com a cabeça de crime organizado, faria sentido o crime organizado se envolver com a questão de manipulação de resultados”, afirmou Marchetti.
Kajuru acrescentou que não tem medo de enfrentar o PCC na CPI das Apostas no Senado, se for necessário.