Há um outro setor da economia que tem tirado proveito do boom das casas de apostas no Brasil: os bancos e as fintechs que servem de ponte para que as plataformas contem com o Pix como ferramenta para receber as apostas esportivas e pagar os prêmios.
Antes de o Pix existir, os casas de apostas se limitavam aos cartões de crédito, que corriam o risco de ter as operações canceladas porque as operadoras poderiam considerar transações suspeitas.
“O mercado de sites de apostas cresceu cinco vezes ao longo dos últimos quatro anos no Brasil e o Pix é o principal responsável por isso”, afirma André Gelfi, presidente do Instituto Brasileiro de Jogo Responsável (IBJR) em entrevista a Pipeline.
A estimativa do IBJR é que o setor brasileiro registre R$ 5,8 bilhões em faturamento em 2023, com R$ 84 bilhões em movimentação de apostas. Conforme Gelfi, mais de 90% do que se movimenta atualmente é feito via Pix. Além disso, o termo (PIX) já foi até incorporado ao nome de algumas casas de apostas.
Para fornecer o Pix aos sites de apostas, os bancos e fintechs cobram uma comissão, que pode variar conforme o porte do cliente e volume. A Pay4Fun, por exemplo, uma instituição de pagamentos que trabalha no Brasil com alguns dos principais players globais, como Bet365 e Betano, e cobra taxas que variam de 2% e 4% para os depósitos dos usuários e de 1,5% a 3% para o resgate dos prêmios. Em 2022, a companhia chegou a marca de 4,95 milhões de transações com Pix.
Além da Pay4Fun, instituições como Stark Bank, BS2, Banco do Brasil, Asaas e Zro Bank também fornecem o Pix para os sites de apostas. Trata-se de um segmento interessante para aquelas focadas em atender o público PJ, como Stark Bank, BS2 e Asaas. O Stark, por exemplo, trabalha com casas como Betano e Bet365. Já a Asaas, parceira de nomes como a Bet Nacional.
Os bancos de câmbio também começaram a fazer dinheiro a partir da realização de remessas do Brasil para as sedes dos sites no exterior, a maioria localizada em Curaçao, Malta e Reino Unido. A Pay4Fun, por exemplo, trabalha com quatro bancos de câmbio parceiros.
Uma recente alteração na lei cambial, que passou a vigor no final de 2022, elevou o limite para que instituições de pagamento pudessem fazer transações de câmbio. “O mercado ficou mais acessível e flexível”, diz a advogada Gabriela Ponte Machado, do escritório Lobo de Rizzo em entrevista a Pipeline.
Popularização das casas de apostas alavancou outro segmento
Com a popularização das casas de apostas, outro setor que cresceu foi de grupos que oferecem serviços ou intermediação de pagamentos. São empresas que representam os sites no Brasil, recebem o dinheiro em uma conta bancária e depois fazem a transferência para fora. A Anspacepay, por exemplo, atua com 25 clientes nesse mercado, entre eles a PixBet, e também operando com bancos de câmbio para realizar as remessas para o exterior.
Outro exemplo é a Causin Serviços de Pagamentos, que aparece como titular da conta de destino para quem faz um Pix nos sites da Betano, da Bet365 e da BetFair. A Causin tem conta tanto na Stark Bank quanto no Banco do Brasil.
Se o Brasil prosseguir com a regulamentação da atividade de apostas esportivas, uma parte desse mercado de pagamentos possa ser afetada. Um dos debates em Brasília envolve a exigência que os players contem com alguma autorização do Banco Central. “Isso traria segurança para o mercado e deixaria os sites mais confortáveis porque o BC seria um selo de qualidade”, afirma Gelfi, da IBJR.
Atualmente, o Banco do Brasil é o único banco com amplo destaque nacional a estar próximo do setor de apostas. “Fomos nós que demos a mão a esse tipo de operador no começo, quando eles mais precisavam”, diz o CEO da instituição, Leonardo Baptista. “Se o Bradesco entrar, ele não vai ter o conhecimento que eu tenho do mercado. O operador me liga com uma dor que o Itaú não vai saber resolver.”
Cabe destacar que os debates no Congresso Nacional, todavia, não se concentram nas formas de pagamentos, mas nas próprias casas de apostas, que podem receber alguma forma de taxação e outras exigências para operar legalmente no país.
De acordo com o Pipeline, as empresas acreditam que a regulamentação não diminuirá a base de apostadores, mas o número de casas de apostas. Hoje, o Ministério da Fazenda estima que mil casas estejam operando no país.