CPI das apostas esportivas: presidente do Vila Nova apoia restrição de apostas aos resultados de jogos
Foto: MyKe Sena/Câmara dos Deputados

Na primeira audiência pública da CPI das apostas esportivas sobre manipulação de resultados no futebol, os participantes do debate apontaram a necessidade de medidas legais para coibir esse tipo de crime. Presidente do Vila Nova, e primeiro a denunciar os esquemas fraudulentos ao Ministério Público, Hugo Jorge Bravo considera crucial, por exemplo, a criação de delegacias especializadas na investigação de crimes esportivos.

O dirigente também apoia que a lei proíba apostas em eventos isolados de jogos, como cartões amarelos ou vermelhos e pênaltis. Para Hugo Bravo, as apostas devem dizer respeito apenas ao resultado final dos jogos. Para ele, campeonatos menores, como os sub-17 ou sub-20, também não deveriam ser objeto de apostas.

“É importante que os senhores tenham uma sensibilidade de restringir alguns eventos que são objeto de apostas. Nós não podemos imaginar que um campeonato sub-20 do Acre seja objeto de apostas de pessoas que estão em qualquer lugar do mundo, nós não podemos imaginar que cartões amarelos possam ser objeto de aposta, nós não podemos imaginar que pênalti no primeiro tempo pode ser objeto de aposta, porque toda e qualquer ação individual vai facilitar a corrupção”, ponderou.

Na opinião do procurador-geral de Justiça do Ministério Público de Goiás, Cyro Terra Peres, que investiga as fraudes nas apostas em jogos de futebol, também é necessário criar mecanismos para que clubes, federações e confederações atuem de forma a prevenir esses esquemas. Ele defende a criação de canais para recebimento de denúncias, por exemplo, para que depois sejam enviadas aos órgãos oficiais de investigação.

O promotor de Justiça do Ministério Público de Goiás Fernando Cesconetto, envolvido na apuração do esquema manipulação, concorda que a falta de regulamentação prejudica a ação dos órgãos investigativos.

Fernando Cesconetto destaca que a resolução de fraudes não pode ficar na dependência de ações isoladas, como a atitude de um presidente de clube que denuncie, para que a informação chegue aos órgãos de apuração. O promotor também defende a criação de normas para que equipes esportivas e federações recebam e repassem denúncias, com a definição de responsabilidades para cada uma dessas organizações.

Resultados da CPI das apostas esportivas

Relator da CPI das apostas esportivas, o deputado Felipe Carreras (PSB-PE) afirmou que o Legislativo foi desafiado não somente a somar esforços com o Ministério Público de Goiás e outras instituições para esclarecer as fraudes no futebol, como a achar maneiras de prevenir crimes futuros. O parlamentar frisou a relevância do futebol na cultura brasileira e afirmou que as fraudes “colocam em xeque a credibilidade dos campeonatos atuais e dos que já existiram.”

“Essa CPI não vai terminar em pizza, pode escrever e cobrar. Ela vai dar resultado punitivo, para dar exemplo, e também de forma educativa, para termos uma legislação que venha proteger talvez um dos maiores patrimônios do povo brasileiro, que é o seu futebol”, assegurou Carreras.

Tanto o presidente do Vila Nova quanto os investigadores de Goiás reforçaram que, até o momento, as investigações estão restritas a casos isolados e não comprometem as competições. Cyro Terra foi taxativo ao dizer que não há nenhuma evidência de participação de dirigentes de clubes nem de juízes nos esquemas fraudulentos.

As casas de apostas também seriam vítimas das organizações criminosas. O procurador Fernando Cesconetto esclareceu que encontraram apostas no valor de R$ 500 mil em que os apostadores receberiam mais de R$ 2 milhões em uma rodada de jogos, e quem pagaria a diferença seriam as casas de apostas, que, portanto, seriam prejudicadas com o esquema.

Fernando Cesconetto ainda relatou que as investigações do MP goiano se restringem a jogos ocorridos a partir do segundo semestre de 2022. O órgão já denunciou 13 integrantes da organização criminosa e 24 atletas. Foram detectadas manipulações de resultados em oito partidas da série A e em cinco partidas da série B do campeonato brasileiro em 2022. A quadrilha também interferiu em quatro partidas dos campeonatos estaduais deste ano.