Casas de apostas explicam como combatem a manipulação de resultados
Casas de apostas explicam como combatem a manipulação de resultados

As casas de apostas estão cada vez mais presentes no futebol brasileiro. No Campeonato Brasileiro da Série A, 19 dos 20 times participantes contam com algum tipo de parceria com empresas deste segmento. Contudo, esse mercado entrou no foco de um escândalo de proporções nacionais devido a revelação de um esquema de manipulação de resultados.

O Ministério Público de Goiás está realizando a Operação Penalidade Máxima, que resultou na instalação da CPI das apostas esportivas na Câmara dos Deputados. Por isso, a ESPN procurou entrar em contato com casas de apostas para conferir o posicionamento e as formas de combate a manipulação de resultados.

A matéria, assinada por Daniel Bocatto, Jean Santos e Vladimir Bianchini, foi publicada nesta quarta-feira, com respostas de empresas ou de entidades que representam as casas de apostas. Confira o texto na integra:

Escândalo de apostas: 28 empresas respondem à ESPN como veem caso e o que fazem para combater manipulação de jogadores

Quem acompanha futebol e outras modalidades tem visto como as empresas de apostas estão cada vez mais presentes no esporte brasileiro nos últimos anos, seja com propagandas, seja com patrocínios a clubes e outras instituições do meio. E elas, claro, são parte importantíssima e interessada no escândalo que tomou conta do futebol nacional e virou caso de polícia. Mas como elas veem esta situação? Como se posicionam? E o que fazem para tentar combater a manipulação de resultados e o aliciamento de atletas?

A ESPN foi atrás destas respostas. E ao todo, 28 companhias, de forma independente ou por meio de associações que fazem parte, responderam à reportagem.

Foram duas perguntas iguais feitas a todas.

1 – Como a empresa vê este escândalo de apostas no futebol brasileiro?

2 – O que as empresas de apostas podem fazer para ajudar no combate ao aliciamento de jogadores?

De forma geral, como o ESPN.com.br mostrou em matéria do último dia 12 de maio, as empresas de apostas defendem a regulamentação do setor.

E no que diz respeito ao escândalo atual, que veio à tona por meio das operações Penalidade Máxima I e II, do Ministério Público de Goiás (MP-GO), elas se veem como vítimas e entendem que o caso prejudica suas atividades.

Duas associações representam a maior parte das companhias de apostas no Brasil, sendo elas a Associação Nacional de Jogos e Loterias (ANJL), com 15 integrantes (veja todos abaixo), e o Instituto Brasileiro do Jogo Responsável (IBJR), com nove participantes (lista abaixo também).

Mesmo fazendo parte da ANJL, a GaleraBet também respondeu às questões de forma independente; em nenhuma das associações citadas acima, Casa de Apostas, Esportes da Sorte e Vai de Bob enviaram suas considerações; enquanto que a LeoVegas enviou parte de seu relatório anual no qual aborda suas maneiras de lutar contra a manipulação.

1 – Como a empresa vê este escândalo de apostas no futebol brasileiro?

Resposta da ANJL, que representa 1 – GaleraBet/PlayTech, 2 – Kaizen, 3 – Betano, 4 – BIG/Ceaser’s Sportbook, 5 – F12, 6 – PagBet, 7 – BetNacional, 8 – Mr. Jack, 9 – Primtemps, 10 – BetFast, 11 – Okto, 12 – Aposta Ganha, 13 – Liderança Capitalização, 14 – Parimatch e 15 – Pay for Fun, por meio do CEO da empresa, Wesley Cardia:

“A Associação Nacional de Jogos e Loterias (ANJL) acredita que a manipulação de resultados de jogos de futebol abala a credibilidade do esporte no Brasil, além de prejudicar casas de apostas e apostadores. Nós reafirmamos nosso repúdio a ações de cunho ilícito que prejudiquem o esporte, a prática do jogo responsável, a integridade dos resultados e, principalmente, as casas de apostas esportivas, que figuram como principais vítimas das fraudes ocorridas.

Esse é o ponto crucial: as casas de apostas são as grandes prejudicadas pela manipulação de resultados. A manipulação de qualquer aspecto de eventos esportivos traz prejuízo às casas de apostas, seja financeiro, seja de imagem, uma vez que elas são as primeiras vítimas desses atos ilegais. Governo, esporte e apostadores também são prejudicados. O primeiro, porque perde arrecadação de impostos; o esporte, porque vê sua credibilidade abalada; e os apostadores, porque os resultados são desvirtuados, impedindo que sua previsão de resultado natural seja alcançada.

A ANJL enfatiza a necessidade da regulamentação do setor, para que sejam adotadas medidas ainda mais eficazes e contundentes por meio de parcerias entre os setores público e privado, com o objetivo de eliminar esse tipo de prática ilegal no mercado brasileiro A ANJL apoia a apuração dos fatos, confiante na atuação das autoridades competentes e na punição exemplar dos envolvidos.”

Resposta do IBJR, que representa 1 – Bet365, 2 – Betsson Group, 3 – Betway Group, 4 – Entain (SportingBet), 5 – Flutter (Betfair), 6 – KTO Group, 7 – Netbet Group, 8 – Rei do Pitaco e 9 – Yolo Group (Sportsbet.io), por meio do diretor-presidente do órgão, André Gelfi:

“Nós ficamos surpresos. A gente tem que se manifestar e esclarecer o que está ao nosso alcance. Até mesmo no ponto de vista do Jogo Responsável. Integridade é um dos nossos alicerces. Estamos engajados nisso. Há alguns dias, anunciamos nossa parceria com a IBIA – International Beting Integrating Association, principal entidade do segmento -, que se dedica ao monitoramento desde 2005 na Europa. Firmamos um acordo para o trabalho no Brasil. A gente está aberto para colaborar, mas até agora não fomos procurados.”

Resposta da Casa de Apostas, por meio de Hans Schleier, diretor de marketing da empresa:

“Estamos acompanhando tudo com muita atenção. É um tema que vai ao encontro dos interesses de indústria, governo e clientes em geral. É importantíssimo que se apure os responsáveis, bem como todos os envolvidos em qualquer tipo de fraude, seja no mercado das apostas esportivas ou não, lembrando que as casas de apostas são as mais prejudicadas.”

Resposta da Esportes da Sorte, por meio de Darwin Filho, CEO da empresa:

“Acompanhamos com bastante apreensão a divulgação de diversos casos de manipulação de resultados no futebol brasileiro, porém, também esperançosos que a ação do poder público visando a criminalização dos agentes responsáveis por esses atos surta efeito, para que possamos mitigar esses problemas e prevenir futuras ocorrências semelhantes. O nosso setor, de apostas esportivas, em conjunto com os clubes, são os principais prejudicados por esses atos marginais praticados pelos crimonosos identificados pelas tarefas investigativas.”

Resposta da GaleraBet, por meio de Marcos Sabiá, CEO da empresa:

“Nós, do GaleraBet, vemos com extremo pesar e com o sentimento de que somos duplamente vitimizados por este tipo de ilícito, seja enquanto parte da sociedade, que vê sua paixão nacional maculada, seja enquanto casas de apostas, diretamente afetadas por estas fraudes.”

Resposta do Vai de Bob Apostas Esportivas, por meio de Thomas Carvalhaes, diretor-executivo da empresa:

“Infelizmente, a análise tem que ser feita de uma forma um pouco mais profunda do que aposta esportiva, tem que de fato ser analisada a questão futebol brasileiro e a questão cultural. Infelizmente, nós sabemos que o Brasil tem muita tendência à corrupção, um problema que é enraizado culturalmente. Nós temos pessoas que encontram e vão continuar encontrando formas de tirar vantagens.

Importante salientar que a casa de apostas é meramente vítima desta questão. Por quê? Porque uma pessoa que vai lá e combina um resultado com um time de futebol ou com um jogador de futebol é uma pessoa que está buscando ganhar um dinheiro injusto em cima da casa.”

Posicionamento da LeoVegas, por meio de parte de seu relatório anual:

“A manipulação de resultados é considerada uma das maiores ameaças à integridade dos esportes competitivos. Prevenir, detectar e processar a manipulação de resultados exige colaboração entre esporte, empresas de jogos e aplicação da lei pelas autoridades.

O esporte educa seus atletas, as empresas têm a responsabilidade de monitorar todas as transações relacionadas a jogos a fim de identificar desvios ou resultados inexplicáveis. Na indústria de jogos digitais, as empresas têm a oportunidade em tempo real de analisar apostas, comportamento do jogador e os movimentos das probabilidades. Partidas suspeitas são relatadas, dependendo da jurisdição, às autoridades e órgão esportivos competentes.

A manipulação de jogos é combatida com sucesso quando empresas de jogos, autoridades e associações esportivas colaboram entre si.”

2 – O que as empresas de apostas podem fazer para ajudar no combate ao aliciamento de jogadores?

Resposta da ANJL, que representa 1 – GaleraBet/PlayTech, 2 – Kaizen, 3 – Betano, 4 – BIG/Ceaser’s Sportbook, 5 – F12, 6 – PagBet, 7 – BetNacional, 8 – Mr. Jack, 9 – Primtemps, 10 – BetFast, 11 – Okto, 12 – Aposta Ganha, 13 – Liderança Capitalização, 14 – Parimatch e 15 – Pay for Fun, por meio do CEO da instituição, Wesley Cardia:

“As grandes empresas estão atentas aos movimentos de manipulação porque elas são as vítimas e não podem aceitar que atos ilegais sejam feitos sem a devida punição.

As empresas associadas à ANJL estão estudando várias medidas que podem adotar, desde campanhas de educação de atletas, excepcionar determinadas apostas (como, por exemplo, não aceitar apostas em números de faltas ou pênaltis ou cartões amarelos) e fazer convênios com as autoridades para municiá-las com informações que possam acelerar ações policiais e legais para deter os bandidos que estão manchando o esporte brasileiro.”

Resposta do IBJR, que representa 1 – Bet365, 2 – Betsson Group, 3 – Betway Group, 4 – Entain (SportingBet), 5 – Flutter (Betfair), 6 – KTO Group, 7 – Netbet Group, 8 – Rei do Pitaco e 9 – Yolo Group (Sportsbet.io), por meio do diretor-presidente do órgão, André Gelfi:

“O que fazemos é trabalhar a prevenção. Basicamente, educar. Fazer com que esse crime seja o menos provável de acontecer. Quando isso ocorre, é que o crime se alinhou ao esportista. Temos que ir na fonte. Onde isso está acontecendo? Tem que conscientizar… Além de todo o arcabouço de consequências, caso estas externalidades sigam acontecendo.

O trabalho passa pela regulamentação das apostas. Hoje, a gente não tem um mercado de apostas nacional. Isso facilita que o criminoso atue. Quando tivermos a regulamentação estabelecida, a relação passa a ser completamente diferente.”

Resposta da Casa de Apostas, por meio de Hans Schleier, diretor de marketing da empresa:

“Nós acreditamos firmemente que a regulamentação trará mecanismos e responsabilidades para toda e qualquer manipulação de resultados.

A regulamentação trará segurança para as empresas e para os apostadores, uma vez que as entidades e empresas estejam habilitadas para compartilhar dados para detectar comportamentos suspeitos. Também vai ajudar a deixar mais transparente as relações com clubes, entidades, empresas e os próprios apostadores.”

Resposta da Esportes da Sorte, por meio de Darwin Filho, CEO da empresa:

“O Esportes da Sorte posiciona-se ao lado da autoridade policial/judicial e à total disposição para auxiliar com dados e informações pertinentes as investigações em curso.

O mercado urge por punições aos responsáveis e estabelecimento de protocolos de comunicação entre os entes público e privado objetivando a prevenção à fraude e antecipação de potenciais movimentos criminosos.”

Resposta da GaleraBet, por meio de Marcos Sabiá, CEO da empresa:

“A fim de coibir e combater essas ações criminosas, além de contar com estruturas, inteligência e tecnologia que busquem identificar e combater estas práticas, somos incentivadores de ações conjuntas que envolvam toda a comunidade do esporte na prevenção e na punição a estes mal feitos, através de ações educacionais junto aos atletas e dirigentes, para que desde as categorias de base haja a conscientização dos riscos e instrumentos de prevenção, reporte às autoridades e punição dos envolvidos.”

Resposta do Vai de Bob Apostas Esportivas, por meio de Thomas Carvalhaes, diretor-executivo da empresa:

“Punições cada vez mais duras, como suspensão permanente do esporte, tanto do atleta envolvido quanto, potencialmente, do clube em caso de recorrência de questões assim. Então, acredito que o que nós [empresas de apostas] podemos fazer é participar do diálogo, nos colocando, mais uma vez, como vítimas de situações assim e exigir e colocar situações para que o diálogo aconteça e, eventualmente, este tipo de situação deixe de existir no esporte brasileiro.”

Posicionamento da LeoVegas, por meio de parte de seu relatório anual:

“A manipulação de resultados é considerada uma das maiores ameaças à integridade dos esportes competitivos. Prevenir, detectar e processar a manipulação de resultados exige colaboração entre esporte, empresas de jogos e aplicação da lei pelas autoridades.

O esporte educa seus atletas, as empresas têm a responsabilidade de monitorar todas as transações relacionadas a jogos a fim de identificar desvios ou resultados inexplicáveis. Na indústria de jogos digitais, as empresas têm a oportunidade em tempo real de analisar apostas, comportamento do jogador e os movimentos das probabilidades. Partidas suspeitas são relatadas, dependendo da jurisdição, às autoridades e órgão esportivos competentes.

A manipulação de jogos é combatida com sucesso quando empresas de jogos, autoridades e associações esportivas colaboram entre si.”

E a regulamentação?

No dia 11 de maio, o governo federal divulgou detalhes a respeito da proposta regulamentadora para o mercado de apostas esportivas, criada pelo Ministério da Fazenda. De acordo com a pasta, as empresas serão taxadas em 16% da receita obtida.

Já os ganhadores das apostas pagarão 30% de imposto de renda em cima do dinheiro recebido. Haverá isenção apenas para valores inferiores a R$ 2.112,00. De acordo com Fernando Haddad, ministro da Fazenda, o governo federal espera arrecadar entre R$ 12 e R$ 15 bilhões por ano.

O projeto, que neste momento está com a Casa Civil, chegará como Medida Provisória ao Congresso (Câmara e Senado). Assim que for editado, o projeto deverá entrar em vigor em um período de até quatro meses. A regulamentação ganhou força depois das operações Penalidade Máxima I e II.

Quantos clubes da Série A do Brasileirão têm empresas de apostas como patrocinador máster?

Dos 20 clubes que compõem a primeira divisão do futebol brasileiro, 12 deles contam com companhias de apostas como patrocinadores máster.

Veja a lista abaixo:

  • Betano – Atlético-MG e Fluminense
  • Betfair – Cruzeiro
  • Blaze – Santos
  • Esportes da Sorte – Athletico-PR, Bahia e Goiás
  • EstrelaBet – América-MG
  • NoviBet – Fortaleza
  • PariMatch – Botafogo
  • PixBet – Vasco
  • Sportsbet.io – São Paulo