Copa do Mundo alavanca apostas esportivas no Brasil, mas 'zebras' assustam novatos

A Copa do Mundo chegou ao fim com a vitória da Argentina em cima da França em um jogo eletrizante. O Mundial de futebol trouxe uma série de hábitos tradicionais nesse período, como reuniões com os amigos, decorações nas cores da seleção e até realizar apostas esportivas. No entanto, as ‘zebras’ da Copa deram prejuízo para novos jogadores.

De acordo com o site MKTEsportivo, o setor de apostas esportivas nacional registrou R$ 7 bilhões em 2020, apesar da pandemia. Entre os anos de 2018 (ano em que foi sancionada a lei que autoriza a operação de casas de apostas no país) e 2020, o setor pulou de R$ 2 bilhões para R$ 7 bilhões.

Uma pesquisa da Zion Market Research apontou que esse setor deveria crescer 10% por ano, alcançando aproximadamente US$ 155,5 bilhões em 2024. No Brasil, a estimativa era de que movimentasse entre R$ 7 e 10 bilhões anualmente.

Pessoas aderem às apostas esportivas durante eventos mundiais

Com a Copa do Mundo 2022, todavia, esse segmento foi impulsionado. Afinal, o Mundial é acompanhado por muito mais pessoas do que uma competição estadual ou nacional, como o Campeonato Brasileiro ou as ligas nacionais da Europa.

“Não tem como fugir da Copa do Mundo, as pessoas estão sendo expostas diariamente. Então, durante o torneio, as casas de apostas adquirem muitos clientes que antes elas não conseguiam acessar”, diz Arthur Silva, responsável da Betway para o mercado brasileiro.

Conforme Silva, a aposta esportiva é como uma “opinião” e que “em eventos grandes, todo mundo tem uma opinião sobre aquilo”. Por isso, milhares de pessoas que, fora da Copa, não assistem futebol, aderem às apostas nesse período.

A publicitária Priscylla Barros é um exemplo. Normalmente, ela não é ligada em futebol, porém, adora acompanhar as partidas durante a Copa. Por isso, Pryscilla apostou R$ 150 em uma série de jogos, mesmo sem ter certeza de uma parte dos resultados.

“Quanto mais jogos você fazia, mais aumentava o valor do ganho, então se eu só apostasse no Brasil, que era o que eu queria, eu ganharia pouco. Mas se eu selecionasse vários jogos, eu ganharia R$ 7 mil. Porém, eu não sabia que se caso eu errasse só um, eu perderia tudo”, explicou.

As zebras desse Mundial, todavia, chamaram a atenção de apostadores experientes e também os novatos que acompanham futebol. Se para os apostadores (a zebra) é algo ruim, para os sites de apostas é muito bem-vindo.

“Normalmente, a Copa ajuda a construir a marca das casas de aposta, mas não rende muito dinheiro para elas. Nesse ano foi diferente, a margem para as casas está boa porque teve muito resultado imprevisível”, afirmou Silva, da Betway.

Apesar das surpresa, muita gente conseguiu faturar em apostas menos tradicionais, como número de faltas ou escanteios em um jogo. O engenheiro civil Bruno Toledo se saiu bem nesse tipo de aposta. Ele, que não é um apostador habitual, viu os amigos apostando e resolveu participar também, para socializar. Porém, o engenheiro não pensa em seguir apostando.

Silva, da Betway, disse que isso é comum. “Depois que a Copa passa, o número de apostadores cai. A maioria que vem pela Copa, sai depois. Mas, ainda assim, a quantidade de clientes nas casas acaba maior do que era antes. Muitos que gostam de futebol e outros esportes, acabam encontrando no ‘menu’ algo que tenham interesse em apostar”, afirma.

Situação da regulamentação do setor de apostas no Brasil

A lei que permite apostas esportivas no Brasil foi sancionada pelo então presidente, Michel Temer, em 2018. Na prática, ela autorizou as chamadas “apostas de cota fixa”, modalidade que inclui os lances em que o apostador sabe o quanto vai ganhar caso acerte aquele resultado. A legislação, contudo, não instituiu nenhum controle do governo sobre a atividade no país.

O prazo para que o governo federal regulasse essa indústria terminou em 12 de dezembro deste ano. A lei de 2018 previa que fosse criado um órgão para definir as normas desse mercado no Brasil, mas isso não ocorreu. No entanto, como as empresas que prestam esse serviço no país são sediadas no exterior, elas podem continuar operando.

“Há um vazio jurídico, porque o prazo não tem exatamente uma consequência. Ou seja, não cai a lei, mas também não obriga ninguém a fazer mudanças. As empresas continuam nesse modelo sediadas no exterior”, explicou Silva. “Mas se amanhã sai uma regulamentação e a empresa não obtém licença, ela precisa parar de atender brasileiros”, finalizou o executivo.