Rodrigo-Maia-e-Presidente-da-FPF-Debatem-Apostas-e-Clube-empresa-com-Diretores-da-LaLiga
Foto: Divulgação

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, e o deputado federal Pedro Paulo (DEM-RJ) se encontraram com o presidente da La Liga, Javier Tebas, na manhã desta sexta-feira, em Madri, para debater o projeto de clube-empresa. O encontro ocorreu na sede da entidade, na Espanha, onde Rodrigo Maia cumpre agendas oficiais do Governo até a próxima segunda-feira.

A reunião teve duas etapas. Na primeira, mais simbólica, foram trocadas experiências e visões a respeito da ideia de clube-empresa. Já na segunda, mais técnica (já sem Rodrigo Maia), discutiu-se pontos específicos do projeto brasileiro com base na experiência da atual lei espanhola.

“Compartilhamos e explicamos a importância de uma estrutura legal apropriada para o crescimento da indústria do futebol. O Brasil deve e pode transformar seu futebol em uma grande indústria, tem tudo” escreveu o presidente da La Liga, Javier Tebas, em uma rede social.

A ideia brasileira é aproveitar os acertos e evitar os erros da experiência espanhola com o clube-empresa. Em 1990, uma lei obrigou quase todos os clubes da 1ª e 2ª divisões da Espanha a se tornarem Sociedades Anônimas Desportivas, ou seja, empresas. Hoje, o parlamento espanhol já estuda formas de flexibilizar a legislação.

Clube-empresa travado no Senado

O projeto de lei que incentiva a migração dos clubes brasileiros para o modelo de clube-empresa foi aprovado na Câmara dos Deputados no fim de novembro, em regime de urgência. Mas parou no Senado. O projeto espera a resolução de um imbróglio envolvendo escolha da relatoria do texto e a incorporação ou não a outro projeto semelhante, do senador Rodrigo Pacheco.

Rodrigo Maia e Pedro Paulo querem o ex-jogador Romário (Podemos-RJ) como relator do PL, mas representantes da CBF têm atuado nos bastidores da Casa junto ao presidente do Senado, Davi Alcolumbre, pela escolha de outro nome. Romário, como se sabe, é forte opositor à entidade máxima do futebol brasileiro.

Por conta disso, o texto até hoje não foi lido no Senado.A expectativa é que o projeto comece a andar a partir das próximas semanas, após a volta do recesso de Carnaval do Congresso.

Rodrigo-Maia-e-Presidente-da-FPF-Debatem-Apostas-e-Clube-empresa-com-Diretores-da-LaLiga-1
Foto: Divulgação

Modelo espanhol: alerta ou inspiração?

Na década de 1980, o futebol espanhol vivia um quadro geral de instabilidade financeira semelhante à realidade atual do Brasil. A maioria dos clubes estava afundada em dívidas com bancos e, principalmente, a União.

Numa tentativa de reverter esse quadro, o governo espanhol promulgou, em outubro de 1990, a chamada “Lei do Esporte da Espanha”, um plano que obrigava todos os clubes com saldo patrimonial líquido negativo da 1ª e 2ª divisões a se tornarem Sociedades Anônimas Desportivas (SAD), ou seja, clubes-empresas.

Dos 42 clubes das duas principais divisões da época, apenas os gigantes Barcelona e Real Madrid (opositores ferrenhos), o Athletic de Bilbao e o Osasuna conseguiram manter a estrutura jurídica de associações civis, por conta do saldo positivo. O Osasuna, tempos depois, também precisou se tornar uma empresa.

Além da permissão de aporte de investimento estrangeiro nos clubes, a lei instituiu a criação da Liga de Futebol Espanhola (LFP), que passou a fazer um forte controle financeiro dos clubes. Até hoje, em todo início de temporada, os times são obrigados a informarem as receitas e previsão orçamentária à La Liga – apenas as receitas garantidas; estimativas de vendas de atletas não podem entrar na conta.

A partir dessas informações, a entidade aplica um cálculo próprio e determina quanto cada clube pode gastar em salários com o elenco durante o biênio. Caso as regras sejam descumpridas, a La Liga impede o registro de novas contratações.

Aplicada de forma abrupta, a lei trouxe cenários distintos para os clubes espanhóis. No Atlético de Madrid, por exemplo, a compra em 1993 pelo empresário espanhol Miguel Ángel Gil Marin praticamente quintuplicou as receitas do time, que se tornou mais competitivo e passou a conseguir títulos relevantes nos anos seguintes.

Nos demais clubes, os novos dirigentes milionários, em busca de resultado, investiam fortunas em grandes contratações. O campeonato se tornou mais atrativo, e consequentemente, as receitas com direitos de transmissão e patrocínios cresceram. Hoje, a Liga Espanhola é a segunda mais valiosa do mundo, atrás apenas da Premier League, segundo o site especializado Transfermarkt. Mas a conta veio.

O governo não conseguiu controlar esses gastos exorbitantes. Muitos voltaram a contrair grandes dívidas e, com isso, afastaram novos investidores. Denúncias de sonegação fiscal, fraudes e corrupção na gerência dos clubes começaram a ser deflagradas, e clubes com grandes dívidas com a União, como o Elche, em 2015, foram rebaixados.

Hoje, a situação financeira geral dos clubes espanhóis encontra-se em um estágio no qual os times já não conseguem mais gerar negócios que sustentem o alto investimento no futebol. A exceção está na ponta, com os gigantes Real Madrid e Barcelona – que se beneficiaram do crescimento das receitas de TV e patrocínio da La Liga, mas escaparam dos altos impostos por terem permanecido em caráter associativo – e o Atlético de Madrid, que ainda conta com alto investimento estrangeiro.